Márcio Mendes e Rose Marry "O noivado é o tempo de preparação, da palavra empenhada. É a festa da palavra." |
Embora para alguns essa tradição tenha caído em desuso, Márcio Mendes e Rose Marry, casal consagrado da Comunidade Canção Nova, pensam o contrário e explicam, em entrevista ao cancaonova.com, a importância dessa fase para o relacionamento e o que, realmente, muda na vida do casal quando resolvem assumir este compromisso.
Casados há 8 anos e pais de dois filhos, os missionários são formadores dos noivos da Comunidade Canção Nova. São eles que orientam os casais da comunidade e os auxiliam a viver de forma plena e consciente esta etapa da vida. Durante o bate-papo, na sala de Márcio no Departamento da TVCN em Cachoeira Paulista (SP), o casal conta qual é o sentido do casamento e o que deve ser observado pelos futuros cônjuges antes de assumir o matrimônio.
Nesta sociedade imediatista, em que nós estamos, é um testemunho dos cristãos o fato de saberem esperar e promover as etapas corretas que um namoro precisa seguir.
Dentro do matrimônio, você vai viver uma eterna descoberta, porque nós não sabemos tudo sobre nós mesmos, quanto mais sobre o nosso cônjuge. Mas uma coisa é você descobrir aquilo que é corriqueiro, acidental, que tem a ver com gostos; outra, é você descobrir o que é essencial, que são os valores da pessoa, os projetos de vida que ela tem, se ela comunga com você a mesma mentalidade, a mesma fé. E são exatamente as outras descobertas que dão um sabor ao casamento, porque é uma delícia poder estar com alguém sobre quem você ainda não esgotou o conhecimento.
cancaonova.com: Na prática, qual a diferença entre o tempo de namoro do tempo de noivado?
O nível de compromisso é completamente diferente, porque no namoro ainda não existe o nível de compromisso que o noivado tem. Você não entra no namoro porque vai casar, mas tendo em vista o casamento, porque, senão, não tem finalidade estar com a pessoa. Caso contrário, esse relacionamento não vai passar nunca de uma amizade e você vai estar explorando fisicamente o outro. E onde há esse tipo de exploração, não tem amizade, não tem compromisso, não tem seriedade; e entra a promiscuidade. O namoro acontece em vista do casamento, mas isso não significa que você vai se casar com a pessoa com quem está namorando; pois ainda não pesa sobre você o compromisso de uma escolha definitiva. Se não der certo, é para terminar mesmo! Tempo de namoro é tempo de escolha. Se você percebeu que, começando a namorar, os caminhos não se cruzam, termine o namoro e vá atrás de outra pessoa.
Relacionamento é comunhão. Quando as pessoas falam de casamento, noivado ou namoro, dizem que é preciso ter comunhão um com o outro, mas o que muitos não sabem é que a palavra "comunhão" é a mesma para a palavra "comunicação". O que é você ter comunhão com alguém? É ter comunicação com a outra pessoa. Então, quando há um casal que briga muito, ou eles não estão se entendo bem e a comunicação está afetada ou eles não têm comunhão mesmo. Eles se entendem, mas não comunicam um para o outro aquilo que dá sentido para a vida deles. Isso lhes traz um problema seriíssimo, porque, se o casal vive brigando, não tem como vislumbrar um futuro diferente para ele do que do namoro. Tudo o que acontece no namoro, vai acontecer no casamento de uma maneira mais intensa. Se o casal, que se encontra para namorar, que nem mora junto, não trabalha junto, mas, nos poucos momentos que tem já se desgasta num ninho de brigas, imagine quando dividir o mesmo quarto, o mesmo banheiro, a mesma cama... isso vai se agravar.
cancaonova.com: Quando há conflito familiar. O que deve ser feito?
Márcio e Rose: Seria muito bom se as famílias pudessem participar concretamente do relacionamento, mas eu ponho a minha fé naquilo que diz a Sagrada Escritura: "O homem deixará seu pai e sua mãe, a mulher deixará o seu pai e sua mãe, se unirá ao seu cônjuge e serão uma só carne". Quem escolhe com quem vai se casar é a pessoa. A família precisa criar consciência, respeitar a escolha do seu filho e apoiá-lo. Nenhuma família é obrigada a gostar da escolha do seu filho ou da sua filha, mas se essa família é estruturada no amor, ela está obrigada a amar a escolha dos filhos. Ou seja, não precisa gostar, mas tem que amar, porque amar envolve respeito, acolhimento, integração. Se a família não aceita, mas a pessoa que vai casar tem segurança do amor que tem pelo outro, ela deve prosseguir, deve enfrentar as dificuldades que virão e deve conversar muito com a sua família para que esta entenda a escolha que ela fez e a respeite, respeitando o cônjuge como respeita o seu próprio filho.
Se a orientação religiosa da esposa é diferente da orientação do marido, eles podem até conviver bem durante um tempo, mas e quando vierem os filhos? Em que fé eles vão educar essas crianças? É claro que se o marido acredita na fé que ele segue ele vai querer educar os filhos [na mesma fé] porque vai querer lhes dar o melhor. A mesma coisa, vai acontecer com a esposa: se ela for uma religiosa convicta, vai querer dar aos filhos aquilo que ela acredita ser o melhor e a salvação para eles. Nesta hora, o relacionamento sofre muito; e não sofrem só os dois, sofrem os filhos que ficam divididos. Por isso, acho que é um grande complicador quando existem religiões diferentes dentro do casamento. Isso não o torna impossível nem torna o amor entre essas pessoas impossível, mas acrescenta, além das dificuldades normais de um matrimônio, uma dificuldade grave, séria, que precisa ser superada.
A castidade não é a privação do sexo; é colocá-lo no lugar que ele precisa estar. Ninguém sai transando com os amigos, porque amizade é uma coisa e um relacionamento afetivo e sexual é outro. Para você ter uma amizade saudável, você precisa respeitar os limites dela. Nós vemos, pela prática, que muitas pessoas romperam relacionamentos lindos, que poderiam ter se tornado os mais importantes da vida delas porque houve esse tipo de abuso. Aquilo que era sagrado para o outro, foi violado.
cancaonova.com: Que sagrado é esse?
Márcio e Rose: A entrega. Você não compartilha o seu corpo com qualquer pessoa, mas com alguém que você quis trazer para a sua máxima intimidade; e isso é o matrimônio. Se você é tão amigo de uma pessoa e percebe que quer lhe dar o seu corpo e a sua vida, você vai se casar com ela. Sendo assim, se você tem certeza de que é ela a pessoa certa, assuma um compromisso. Se você ama para casar, precisa assumir o outro publicamente. Ou você tem vergonha do seu cônjuge? Ou não tem certeza da decisão que vai tomar? Se você não tem certeza, não deve casar. Como você vai entregar para alguém algo que é importante, sagrado e íntimo, quando já o destruiu, já o usurpou e o distribuiu de maneira fútil para qualquer pessoa? Nós vemos que a castidade ainda é uma exigência, porque as mesmas pessoas que a combatem, quando querem se unir a alguém, unem-se a alguém que seja casto. A castidade é um estado que, no tempo de preparação, permite a você ver o quão fiel e exclusiva aquela pessoa pode ser a você e o quão fiel e exclusivo você pode ser para aquela pessoa. O tempo de namoro é um tempo para este tipo de verificação.
Márcio e Rose: Não é mesmo. Quando você se casa, existe a necessidade de ter o seu "cantinho", porque se você vai morar com a sua mãe ou com a sua sogra, vai haver conflitos, pois sua mãe tem um modo de ver o relacionamento; já teve uma experiência; o mesmo vale para a sogra. Isso impede que você tenha a sua experiência. Você precisa ter a sua casa para poder conhece o outro e o outro conhecer você; e uma terceira pessoa vai ser um empecilho.
A pessoa também não deve fazer loucuras, não deve entrar num relacionamento com a cara e a coragem para ver o que é que vai dar. Se você não criou um ambiente necessário para o desenvolvimento familiar, como ter uma família que lhe dê um resultado de felicidade? A família conta com a sua colaboração para a construção dela. Então, nem a loucura de querer construir um universo antes de casar é recomendável (só para gozar daquilo que você já construiu), nem entrar no matrimônio com a cara e a coragem para ver no que é que vai dar. Isso é o supra-sumo da irresponsabilidade. Se o objetivo é a construção de uma vida conjunta, o esforço do marido, junto com o esforço da esposa, vai lhes facilitar essa construção. Não precisa ter aquele desespero da casa quitada, do carro pago, mais de uma fonte de renda. Temos de acreditar na generosidade de Deus, no compromisso que estamos assumindo junto com o outro.
Fonte: cancaonova.com
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