sábado, 9 de junho de 2012

Especial Corpus Christi: A Eucaristia na Bíblia.


Para os católicos, a Hóstia Consagrada e o Vinho Consagrado (pão e vinho) são o próprio Cristo, separados ou não, totalmente. A menor partícula de pão consagrado ou a menor gotícula de vinho consagrado são o Cristo inteiro. A isto chamamos a presença real de Jesus na Eucaristia.

A Bíblia fundamenta bem esta verdade. Faremos uso da bela explicação de D. Estevão Bettencourt, em seu livro “Curso sobre os Sacramentos”:

1º) Quando Jesus disse “Isto é o meu corpo” muito provavelmente usou o termo “carne=basar”, que, em hebraico/aramaico, indica a pessoa por inteiro, e não só o corpo físico. Jesus revelou estar dando a totalidade do seu ser: corpo, sangue, alma e divindade.

2º) O termo “sangue =dam” utilizado por Jesus tem um caráter sagrado, significa “vida” e tem ligação direta com Deus, o único “Senhor da vida”.” 11.Pois a alma da carne está no sangue, e dei-vos esse sangue para o altar, a fim de que ele sirva de expiação por vossas almas, porque é pela alma que o sangue expia.(Lv 17,11)”; “23. Mas guarda-te de absorver o sangue; porque o sangue é a vida, e tu não podes comer a vida com a carne” (Dt 12,23). O sangue era usado no altar para expiação dos pecados. Para o homem, representa toda sua VITALIDADE EXISTENCIAL. Ora, Jesus  ao dizer “Isto é o meu sangue” também oferecia toda sua pessoa, neste momento, também, 2ª Pessoa da SS.Trindade, Pessoa Divina.  

3º) Tanto o corpo (pão) e o sangue (vinho) significavam Jesus por inteiro. Logo, a Última Ceia ministrada por Jesus antecipava o que aconteceria na Cruz, isto é, o próprio Cristo entregando sua vida para a remissão dos pecados da humanidade, para todos aqueles que cressem em Jesus como o Messias, seguissem seus mandamentos e se arrependessem de seus pecados.

4º) No discurso do pão da vida (Jo 6), João não quis repetir a narrativa da Instituição da Eucaristia, já apresentada por Mateus, Marcos, Lucas e Paulo (1 Cor 11,23-24), pois escreveu bem depois. Com isso, desenvolveu o significado doutrinário da determinação de Jesus, referindo-se a promessa do pão da vida.  

Nos vv.1-15 mostra-se o poder de Deus sobre o mistério da Eucaristia (a multiplicação dos pães); nos vv.16-21 demonstra-se o poder de Jesus sobre o corpo e os elementos da natureza para que, enfim, nos vv.22-71, Cristo pudesse discursar sobre o pão da vida, usando elementos dos quadros anteriores, anunciando que o pão será o seu próprio corpo. Em particular, Jesus propõe, nos vv.51-71 que o pão será a verdadeira carne de Cristo, penhor da vida eterna, e não mera representação, teatro ou alegoria, como afirmam os protestantes. Vejamos as expressões muito concretas do trecho 6,51-56:

51. Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo. 52. A essas palavras, os judeus começaram a discutir, dizendo: Como pode este homem dar-nos de comer (phagein) a sua carne53. Então Jesus lhes disse: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos54. Quem come (ho trogon) a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia55. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. 56. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.”

Agora, vamos verificar o texto original para compreender ainda mais o que já está explícito nas partes sublinhadas deste trecho supracitado.

No v.52 os judeus indagaram como Jesus poderia dar sua carne para comer. A expressão usada foi phagein, em grego. Jesus respondeu e insistiu na literalidade de seu discurso, – não era alegoria ou figuração – utilizando expressão ainda mais forte, o verbo trogô, que significa  mastigar, dilacerar com os dentes, num realismo extremo.

O que mais se pode dizer depois do que o próprio Jesus disse, através do Evangelho de João? A Eucaristia não é mero simbolismo. É o próprio Jesus, em corpo, sangue, alma e divindade. Carne=basar significando a pessoa por inteiro; sangue=dam significando  a pessoa com  toda sua vitalidade existencial… como desvirtuar tais frases do Mestre?

Muitos perguntarão: então qual o significado semita (hebraico) das verbos “phagein” e “ho trogon”? Pois bem, “comer a carne” de alguém significaria “ofender essa pessoa, perseguí-la até a morte” (Sl 26,2), “beber o sangue de alguém” significaria “arder de ódio para com tal pessoa”… Ora, está claro que Jesus, em Jo 6,54, não poderia convidar os ouvintes para o ódio para com o Mestre, prometendo em troca vida eterna. Seria absurdo e o oposto de toda a mensagem de Jesus! Além do mais, vimos que os discípulos, no v. 52 estavam pensando na literalidade do discurso de Jesus. Em outras vezes, quando Jesus queria ser entendido metaforicamente, figuradamente, o Senhor assinalava, como em Jo 11,11-14 e Jo 3,4s, por exemplo:

11. Depois destas palavras, ele acrescentou: Lázaro, nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo. 12. Disseram-lhe os seus discípulos: Senhor, se ele dorme, há de sarar. 13. Jesus, entretanto, falara da sua morte, mas eles pensavam que falasse do sono como tal. 14. Então Jesus lhes declarou abertamente: Lázaro morreu.” (Jo 11,11-14)

4. Nicodemos perguntou-lhe: Como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer pela segunda vez? 5. Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus.6. O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito.7. Não te maravilhes de que eu te tenha dito: Necessário vos é nascer de novo.” (Jo 3,4-7)

No v.51 Jesus disse “51. Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo.” Onde Ele deu o pão como sendo a sua carne? No cenáculo durante a Última Ceia: 26. Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai e comei, isto é meu corpo.” (Mt 26,26) . A afirmação “E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo” como já dito, provocou a reação dos judeus, realmente porque pensavam na literalidade. Para os mesmos, era algo grave e escandaloso, expressamente proibido beber sangue: 10. A todo israelita ou a todo estrangeiro, que habita no meio deles, e que comerqualquer espécie de sangue, voltarei minha face contra ele, e exterminá-lo-ei do meio de seu povo.” (Lv 17,10) 
Jesus, então, insistiu na literalidade do discurso, dizendo que (v.54) “quem dilacera, mastiga com os dentes (ho trogon) minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.”



5º) Jesus manteve sua posição, mesmo após vários ouvintes o abandonarem (v.66):  


57. Assim como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim. 58. Este é o pão que desceu do céu. Não como o maná que vossos pais comeram e morreram. Quem come deste pão viverá eternamente.59. Tal foi o ensinamento de Jesus na sinagoga de Cafarnaum.60. Muitos dos seus discípulos, ouvindo-o, disseram: Isto é muito duro! Quem o pode admitir?61. Sabendo Jesus que os discípulos murmuravam por isso, perguntou-lhes: Isso vos escandaliza ?62. Que será, quando virdes subir o Filho do Homem para onde ele estava antes?…63. O espírito é que vivifica, a carne de nada serve. As palavras que vos tenho dito são espírito e vida.64. Mas há alguns entre vós que não crêem… Pois desde o princípio Jesus sabia quais eram os que não criam e quem o havia de trair.65. Ele prosseguiu: Por isso vos disse: Ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lho for concedido.66. Desde então, muitos dos seus discípulos se retiraram e já não andavam com ele.67. Então Jesus perguntou aos Doze: Quereis vós também retirar-vos?68. Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. 69. E nós cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus!” (Jo 6,57-69)

Se o discurso fosse em tom figurado, metafórico, os discípulos não o achariam duro, difícil para ser admitido. Jesus manteve a literalidade do discurso do pão da vida e foi interrogar os apóstolos a respeito. Pedro, com certeza, inspirado pelo Espírito Santo, em nome dos apóstolos, afirmou que acreditava na instituição da Eucaristia, pois só Jesus tinha “as palavras da vida eterna” (Jo 6,68c)

6º) O versículo 63, aparentemente pode causar dificuldades. Jesus diz “63. O espírito é que vivifica, a carne de nada serve. As palavras que vos tenho dito são espírito e vida.”  Jesus apenas tratava de remover um entendimento grotesco de suas palavras. Não se tratava de comer carne humana (isto não santifica o homem) nem de comer a carne do Senhor em condições terrestres (como o canibalismo), mas de receber a carne de Cristo GLORIFICADA, EMANCIPADA DAS LEIS DO ESPAÇO E DO TEMPO. É a carne nestas circunstâncias que Jesus chama de “espírito”, é espírito porque está toda penetrada na Divindade (na verdade, é a Divindade de Jesus que, mediante a carne, vivifica os fiéis na Eucaristia e não a carne humana de Jesus). Por isto, Jesus ao dizer “isto é o meu corpo” e “isto é o meu sangue” não se referia somente a carne, mas a totalidade de seu ser, corpo e sangue, alma e divindade (como já vimos). Na própria Bíblia, no Novo Testamento, temos noção de corpo glorificado, corpo-espírito ou corpo espiritual.  Não deixa de ser corpo, Jesus não é incoerente, trata-se de um corpo emancipado das leis do espaço e do tempo, ressuscitado.

20. Nós, porém, somos cidadãos dos céus. É de lá que ansiosamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo,21. que transformará nossomísero corpo, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso, em virtude do poder que tem de sujeitar a si toda criatura.” (Fl 3,20-21)  
41. Uma é a claridade do sol, outra a claridade da lua e outra a claridade das estrelas; e ainda uma estrela difere da outra na claridade.42. Assim também é a ressurreição dos mortos. Semeado na corrupção, o corpo ressuscita incorruptível;43. semeado no desprezo, ressuscita glorioso; semeado na fraqueza, ressuscita vigoroso;44. semeado corpo animal, ressuscita corpo espiritual. Se há um corpo animal, também há um espiritual.” ( 1 Cor 15,41-44)

A Palavra de Deus é perfeita, não? Por esta razão não é correto dizer que a Missa renova o sacrifício de Jesus na cruz. Na verdade, repete-se a Última Ceia e torna-se “presente” o sacrifício de Jesus na cruz, a entrega de seu corpo glorificado. Porque este corpo está emancipado das leis do espaço e do tempo, embora, com a impassibilidade suspensa. Trata-se, inclusive, da Pessoa Divina de Jesus, de Jesus, por inteiro.

7º) Para João Paulo II, nosso saudoso Papa, a Igreja é feita de Eucaristia. Realmente, a Eucaristia é o ápice da ordem sacramental. O Batismo é dirigido à Eucaristia, de modo que esta é o centro de toda a vida da Igreja e de cada um dos fiéis. É a perpetuação do sacrifício que Cristo ofereceu a sós no Calvário outrora e que, atualmente, através dos sinais sagrados, oferece com sua Igreja. Ora, se a Igreja tem como cabeça Jesus, esta só pode se alimentar do próprio Cristo, que é realmente a Eucaristia, alimento da vida espiritual, sacramento dos sacramentos.

Scott Hahn diz: “A centralidade da Eucaristia está evidente também na descrição concisa que os Atos dos Apóstolos fazem da vida na Igreja primitiva: 42. Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, na reunião em comum, na fração do pão e nas orações.”(At 2,42). A primeira epístola aos Coríntios (c.11) contém um verdadeiro manual de teoria e práticas litúrgicas. A carta de São Paulo revela sua preocupação em transmitir a forma exata da liturgia, nas palavras da instituição tiradas da Última Ceia de Jesus: “23. Eu recebi do Senhor o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão 24. e, depois de ter dado graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo, que é entregue por vós; fazei isto em memória de mim. 25. Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim.” (1 Cor 11,23-25). Paulo ressalta a importância da doutrina da presença real e vê conseqüências funestas na descrença: 29.Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação.” ( 1 Cor 11,29).

A real presença de Jesus na Eucaristia é claríssima! Nos quatro evangelhos e nas cartas de São Paulo, o 13º apóstolo!  

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