quarta-feira, 14 de março de 2012

Saúde Não è Só Ausência de Doença


A cada ano, a Igreja que está no Brasil vem promovendo a Campanha da Fraternidade, durante o tempo da Quaresma. Para os cristãos, que se preparam para a Páscoa do Senhor, esse tempo é propício para empreender com gestos fraternos de solidariedade, - inspirados na prática do Senhor, em sua compaixão pela miséria humana, - alentar a dor e sofrimento daqueles que gritam por socorro.
A Campanha da Fraternidade, neste ano com o Tema: Fraternidade e Saúde Pública e o lema: Que a saúde se difunda sobre a terra, quer envolver a todos. Por isso, ela ultrapassa o âmbito da Igreja Católica e convida todas as demais Igrejas e as pessoas de modo geral, mesmo aquelas que não creem, para o desafio de fraternalmente se empenharem na promoção humana. A Campanha da Fraternidade sempre apresenta sua preocupação com o resgate e da dignidade da vida em quaisquer instâncias. Por isso, ela traz, à tona, temas fundamentais de interesses sociais e humanitários, convocando, assim, a sociedade a discutir e assumir, através de gestos concretos, um compromisso com a os menos favorecidos e, por isso mesmo, excluídos das decisões que lhes favoreçam um mínimo de bem-estar.
A Campanha da Fraternidade, neste ano, chama a atenção para os graves problemas enfrentados pela Saúde Pública no Brasil. O Objetivo Geral da Campanha da Fraternidade de 2012 é: "Refletir sobre a realidade da saúde no Brasil, em vista de uma vida saudável, suscitando o espírito fraterno e comunitário das pessoas, na atenção aos enfermos e mobilizar por melhoria no sistema público de saúde" (p. 12 do Texto-Base). Além do objetivo geral, a Campanha da Fraternidade para 2012 apresenta seis objetivos específicos. Estes são: "a) Disseminar o conceito de bem vier e sensibilizar para a prática de hábitos de vida saudável; b) Sensibilizar as pessoas para o serviço aos enfermos, o suprimento de suas necessidades e a integração na comunidade; c) Alertar para a importância da organização da pastoral da Saúde, nas comunidades: criar onde não existe, fortalecer onde está incipiente e dinamizá-la onde ela já existe; d) Difundir dados sobre a realidade da saúde no Brasil e seus desafios, como sua estreita relação com os aspectos sócio-culturais de nossa sociedade; e) despertar nas comunidades a discussão sobre a realidade da saúde pública, visando à defesa do SUS e a reivindicação do seu justo financiamento; e f) Qualificar a comunidade para acompanhar as ações da gestão pública e exigir a aplicação dos recursos públicos com transparência, especialmente na saúde" (cf. p. 12 do Texto).
A nossa Constituição assegura que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado. Porém, infelizmente, não é isso que vem acontecendo no nosso país. Basta dar uma olhada nos Postos de Saúde nas cidades do interior e em nossos Prontos Socorros para constatar certo descaso com a saúde dos cidadãos brasileiros. Não podemos deixar de reconhecer alguns avanços, atenuando o sofrimento dos nossos doentes. Mas, num todo, apesar do avanço da ciência e da técnica no campo da saúde, nossos pobres ainda vivem – ou morrem – sem assistência médico-hospitalar que correspondam à dignidade dos cidadãos deste país.
O texto da Campanha da Fraternidade nos lembra de que saúde não é apenas ausência de doença, mas sim, um processo harmonioso de bem-estar físico, psíquico, social e espiritual. Enfim, é o cuidado do ser humano como um todo. De modo especial, renova em todos nós, o compromisso samaritano da Igreja. A parábola do Bom Samaritano aqui se torna emblemática do cuidado que devemos ter com o outro, quando, tantas vezes, encontramos caído pelo caminho, ferido, doente, desassistido, gritando por socorro a todos que passam, muitas vezes, preocupados com seus problemas mais imediatos, não escutando o clamor desses necessitados.
É, mais uma vez, a hora de empreendermos o gesto samaritano, que dever ser marca constitutiva do nosso ser cristão. Mãos estendidas, direcionadas e prontas para atenuar a dor e o sofrimento daqueles que padecem de todos os males, deixando, assim, nossa sociedade doente. É mais um desafio para nós que cremos e optamos pela dignidade da vida: padres, agentes de pastoral e todos os homens e mulheres de boa vontade prontos e disponíveis para promover a vida.  
D. Antônio Muniz
Arcebispo Metropolitano de Maceió

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