Você sabe que a lua, a cada mês, passa por quatro fases: lua nova, quarto crescente, lua cheia e quarto minguante. Você sabe também (será que sabe?) que, tanto para os judeus como para os cristãos, a data da Páscoa depende de uma das fases da lua, isto é, da lua cheia de abril. Se, para nós, abril corresponde à estação do outono, no hemisfério norte, abril é tempo de primavera, a estação da renovação da vida. Quando o povo de Israel foi libertado do Egito e celebrou a primeira Páscoa, era primavera. Quando Jesus foi crucificado e morto, e em seguida ressuscitou, era primavera. Tanto para Israel quanto para Jesus, a Páscoa foi o início de uma VIDA NOVA!

A Páscoa de Jesus – Teve dois momentos: a última ceia e a crucifixão, morte e ressurreição do Senhor, momentos que nós, cristãos, celebramos e revivemos no tríduo pascal, a começar da quinta-feira santa à tardinha até o domingo de Páscoa. Jesus é o novo Moisés que conduz toda a toda a humanidade (não só o povo hebreu) da terra da escravidão do pecado e da morte para a terra da graça e da vida eterna. Jesus é de fato o grande Libertador. Não só, Jesus é também o novo cordeiro pascal imolado na cruz, cujo sangue nos livrou do pecado e nos comunica a vida (Eucaristia). O momento alto da vida de Jesus foi o Calvário: pregado na cruz, Ele ofereceu ao Pai por nós todo o seu amor, entregou voluntariamente sua vida; ressuscitando, venceu a morte, derrotou o pecado e o diabo, e abriu para nós o caminho da vida eterna. Esta foi a Páscoa de Jesus, isto é, sua “passagem” da morte para a vida, proporcionando também para nós a “passagem” do pecado para a graça, da escravidão para a liberdade dos filhos de Deus, da morte para a vida eterna. Na última ceia, Jesus antecipou, sob a forma de um rito a ser renovado perpetuamente (a Missa), os acontecimentos do Calvário. No ritual da última ceia, Jesus era o cordeiro pascal que haveria de ser imolado na sexta-feira santa. Desse modo, a Páscoa de Jesus foi ritualmente condensada na última ceia a ser perpetuada através dos séculos pela celebração da Eucaristia. Cada vez que se celebra a Eucaristia se celebra a Páscoa do Senhor… e a nossa Páscoa também.
A Páscoa do cristão/ã (I) – É o Batismo. Como ensina São Paulo, pelo Batismo, somos tornados semelhantes a Jesus Cristo em sua morte e em sua ressurreição. Com Cristo, somos sepultados na morte; com Cristo, ressuscitamos para a vida eterna. É a nossa libertação. Jesus ensinou a Nicodemos que “quem não renascer pela água e pelo Espírito Santo não pode entrar no Reino de Deus”. O Batismo nos liberta da escravidão do pecado, do diabo e da morte e nos introduz na terra prometida da vida com Deus. É a nossa “passagem”, a nossa Páscoa. Por isso, a celebração do tríduo pascal é um convite a retornarmos ao momento do nosso Batismo quando fomos lavados por Cristo e tornados filhos/as e Deus. É de fato verdade que o Batismo é a Páscoa do cristão.
A Páscoa do cristão/ã (II) – O Batismo se desdobra ao longo de toda a vida do cristão. A morte ao pecado e a ressurreição para a vida divina deve ser o contínuo esforço do cristão. A vida cristã não é outra coisa senão o seguimento de Cristo até a cruz e a ressurreição. A vida divina acolhida em nós pelo Batismo se alimenta da Palavra de Deus, da fé, esperança e caridade, dos Sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia, da oração, da renúncia ao mal sob todas as formas que ele assume em cada um de nós e na sociedade como um todo. A vida cristã deve ser uma contínua Páscoa, isto é, “passagem” do pecado para a graça, da morte para a vida, da renúncia ao diabo para o seguimento de Jesus.
A Páscoa do cristão/ã (III) – O Batismo, pelo qual morremos com Cristo e com Cristo ressuscitamos, assume forma concreta no momento da nossa morte e da nossa ressurreição: a morte, em qualquer momento do tempo; a ressurreição, no fim dos tempos, como prometeu Jesus. A nossa morte e a nossa ressurreição tornarão plena a Páscoa em nós, pois provocarão a “passagem” definitiva para a vida eterna. Então, seremos semelhantes a Cristo Ressuscitado! Ele é a Páscoa definitiva, e nós, com Ele, participaremos da sua Páscoa para sempre.
Como você vê, a Páscoa é um acontecimento “complexo”, ou como disse no início, a Páscoa tem “fases”: o que em Jesus foi um processo de alguns dias, em nós será um processo longo tanto quanto Deus permitir e terá seu acabamento no dia do grande Retorno do Senhor na glória. Naquele grande Dia, a Páscoa desembocará na glória e estaremos para sempre com o Senhor.
Por tudo isso você vê que o fato fundamental da sua vida, depois do nascimento, é o seu Batismo, a primeira fase da “sua” Páscoa. A Páscoa dura toda a vida. Portanto, a vida cristã consiste em viver o próprio Batismo, ou seja, consiste na “passagem” diária da morte para a vida divina. Não é questão de multiplicar práticas religiosas, mas de viver com intensidade e com fidelidade a “sua” Páscoa.
Dom Hilário Moser, SDB
Doutor em Teologia Dogmática pela Pontificia Università Salesiana, de Roma, lecionou por vários anos no Instituto Teológico Pio XI, de São Paulo.
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