terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Novas Comunidades: Providência do Espírito para Nossos Dias


"Hoje, a Igreja alegra-se ao constatar o renovado cumprimento das palavras do profeta Joel, que há pouco escutamos: 'Derramarei o Meu Espírito sobre toda criatura...'
(Atos 2, 17).




Vós aqui presentes sois a prova palpável desta 'efusão' do Espírito." ..."quero bradar: Abri-vos com docilidade aos dons do Espírito!"..."E eis, então, os movimentos e as novas comunidades eclesiais: eles são a resposta, suscitada pelo Espírito Santo, a este dramático desafio do final de milênio. Vós sois esta resposta providencial."..."Desde o início do meu Pontificado, atribui especial importância ao caminho dos Movimentos Eclesiais...Pude indicá-los como novidade que ainda espera ser adequadamente acolhida e valorizada." ..."Damos graças ao Senhor por esta primavera da Igreja suscitada pela força renovadora do Espírito." (Discursos de João Paulo II na vigília de Pentecostes e do Congresso mundial no Encontro do Santo Padre com os Movimentos Eclesiais e as Novas Comunidades - 30/05/1998 - fonte: "L'osservatore Romano" - edição nº 23 em português - de 06/06/1998- Pentecostes de 1998 - Ano do Espírito Santo - Vaticano).

Neste memorável e histórico encontro de João Paulo II com os Movimentos Eclesiais e as Novas Comunidades, percebemos claramente em todo o seu discurso e de modo especial neste trecho acima citado a valorização e o peso de esperança que o Santo Padre colocava nestas novas formas de vida evangélica e que foi ratificada por seu sucessor Bento XVI. Porém, todo esse reconhecimento e esperança depositados trazem para nós, membro de Novas Comunidades a grande responsabilidade de sermos dóceis e fiéis àquilo que o Espírito suscita em nosso tempo e àquilo que querem de nós nossos pastores.

Seis anos após esse encontro, o próprio João Paulo II voltou a acentuar essa importância das Novas Comunidades e Movimentos Eclesiais para a Igreja:
"Queridos irmãos e irmãs. A celebração desta tarde me recorda o memorável encontro com os movimentos eclesiais e com as novas comunidades da vigília de Pentecostes de seis anos atrás. Foi uma manifestação extraordinária da unidade da Igreja, na riqueza e variedade dos carismas, que o Espírito Santo infunde em abundância. Repito com força o que disse naquela ocasião: os movimentos eclesiais e as novas comunidades são uma <>, <> diante da necessidade atual de nova evangelização, para a qual se necessitam de <> e <> (Cf. <> XXI, 1 [1998], p. 1123).

Por este motivo, também vos digo: <> (ibidem, p. 1122)." (homilia que João Paulo II pronunciou na Vigília de Pentecostes que presidiu na Praça de São Pedro do Vaticano - 30 de maio de 2004).

Sabemos que o Espírito Santo vem em nosso auxílio, em auxílio da Igreja em suas diversas necessidades e desafios em função de sua missão no mundo e através dos séculos. As Novas Comunidades ou Comunidades Novas ou ainda Novas Fundações conforme as nomeia João Paulo II na Exortação Vita Consecrata constituem sim uma nova esperança para a Igreja, porém, sem ser novidade exclusiva, essas novas formas de vida na Igreja vem se agregar àquelas já consagradas ao longo da história da própria Igreja. As Novas Comunidades não vem substituir algum modelo falido ou que não deu certo, pelo contrário, vem somar com aquilo que existe na Igreja a fim de incrementar, pela ação do Espírito Santo que as suscita, sua missão evangelizadora no mundo. Vejamos ainda João Paulo II nos falando sobre essa realidade:
"A perene juventude da Igreja continua a manifestar-se também hoje: nos últimos decênios, depois do Concílio Ecumênico Vaticano II, apareceram formas novas ou renovadas de Vida Consagrada.

Estas novas formas de Vida Consagrada, que se vêm juntar às antigas, testemunham a constante atração que a doação total ao Senhor, o ideal da comunidade apostólica, os carismas de fundação continuam a exercer mesmo sobre a geração atual, e são sinal também da complementaridade dos dons do Espírito Santo.

Mas o Espírito Santo não Se contradiz na inovação. Prova-o o fato de que as novas formas de Vida Consagrada não substituíram as antigas, numa variedade tão grande de formas, pode-se conservar a unidade de fundo graças ao chamamento sempre idêntico a seguir, na busca da perfeita caridade, Jesus virgem, pobre e obediente. Este chamamento, tal como se encontra em todas as formas já existentes, assim é requerido naquelas que se propõem como novas." (João Paulo II, Exortação Apostólica Vita Consecrata, 12 - 25 de março de 1996).

"O Espírito, que, ao longo dos tempos, suscitou numerosas formas de Vida Consagrada, não cessa de assistir a Igreja, quer alimentando nos Institutos já existentes o esforço de renovação na fidelidade ao carisma original, quer distribuindo novos carismas a homens e mulheres do nosso tempo, para que dêem vida a instituições adequadas aos desafios de hoje. Sinal desta intervenção divina são as chamadas novas Fundações, com características de algum modo originais relativamente ás tradicionais.

A originalidade destas novas comunidades consiste freqüentemente no fato de se tratar de grupos compostos de homens e mulheres, de clérigos e leigos, de casados e solteiros, que seguem um estilo particular de vida, inspirado às vezes numa ou noutra forma tradicional ou adaptado às exigências da sociedade atual. Também o seu compromisso de vida evangélica se exprime em formas diversas, manifestando-se, como tendência geral, uma intensa aspiração à vida comunitária, à pobreza e à oração. No governo, participam clérigos e leigos, segundo as respectivas competências, e o fim apostólico vai ao encontro das solicitações da nova evangelização.

Estas novas associações de vida evangélica não são uma alternativa às anteriores instituições, que continuam a ocupar o lugar insigne que a tradição lhes conferiu. Também as novas formas são um dom do Espírito, para que a Igreja siga o seu Senhor, num ímpeto perene de generosidade, atenta aos apelos de Deus que se revelam através dos sinais dos tempos. Assim ela apresenta-se ao mundo, diversificada nas suas formas de santidade e de serviços, como sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano". (Cf. ibid. 62).
Como não há, ainda, disposições canônicas e jurídicas específicas para as novas formas de Vida Consagrada nas Novas Comunidades, aguardamos em espírito de expectativa e obediência, e enquanto isso não vem a ocorrer, somos regidos pela norma canônica vigente como associação privada de fiéis (cf. CDC 298 , 311).

Mas, voltando à afirmação inicial de João Paulo II "Vós sois resposta providencial do Espírito", começamos a compreender porque Deus suscitou nos últimos anos, principalmente pós Vaticano II, um grande número de Novas Comunidades e Movimentos em todo o mundo. Toda essa primavera da Igreja é resposta do Espírito aos novos desafios em que a Igreja e os cristãos foram e são submetidos nestes tempos. Tempos que exigem novos métodos, novas formas e novo ardor missionário para ser verdadeiramente resposta à altura daquilo que somos inquiridos de forma cada vez mais incisiva neste tempo de secularização e até mesmo paganização das culturas e nações.

A Igreja deve manter-se viva através dos séculos, e o Espírito Santo que é sua Alma, é o responsável por sua vitalidade. Aquilo que é novo na Igreja vem também como resposta do Espírito para manter sua vitalidade. Não de maneira isolada, como "salvadores da pátria" mas em forma de comunhão, o novo e o antigo devem se conjugar para chegar a essa fórmula de vitalidade. Eis o segredo da vitalidade original da Igreja: A Comunhão de amor de seus filhos: Todos os fiéis viviam unidos... Unidos de coração." (At 2, 44.46). João Paulo II chegou a afirmar em sua Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte nºs 43-45, que devemos ser casa e escola da comunhão dentro do que ele define como Espiritualidade da comunhão:
"Fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão: eis o grande desafio que nos espera no milênio que começa, se quisermos ser fiéis ao desígnio de Deus e corresponder às expectativas mais profundas do mundo... Antes de programar iniciativas concretas, é preciso promover uma espiritualidade da comunhão, elevando-a ao nível de princípio educativo em todos os lugares onde se plasma o homem e o cristão, onde se educam os ministros do altar, os consagrados, os agentes pastorais, onde se constroem as famílias e as comunidades. Espiritualidade da comunhão significa, em primeiro lugar, ter o olhar do coração voltado para o mistério da Trindade, que habita em nós e cuja luz deve ser percebida também no rosto dos irmãos que estão ao nosso redor."
Aqui está uma das profecias na qual as Novas Comunidades são chamadas a ser na Igreja e no mundo: testemunhas de comunhão resgatando as virtudes dos primeiros cristãos.

As Novas Comunidades são resposta providencial na medida em que, providenciadas pela iniciativa Divina, vêm de encontro a um mundo em crise de fé, esperança, caridade, obediência, pobreza e castidade. Com suas características e vivências próprias e originais elas trazem um sabor do novo com novas esperanças e são sinal vivo da perene juventude da Igreja rejuvenescendo a prática das Virtudes Teologais e dos Conselhos Evangélicos. Aqui está, também, mais uma profecia na vocação das Novas Comunidades.

É necessário reconhecer e acolher essa nova e maravilhosa forma de Deus agir na Igreja, no mundo e na história como bem frisou João Paulo II em seu discurso citado acima: "Pude indicá-los como novidade que ainda espera ser adequadamente acolhida e valorizada.... Damos graças ao Senhor por esta primavera da Igreja suscitada pela força renovadora do Espírito." Porém, creio que, também as Novas Comunidades devem passar por suas provas naturais e sobrenaturais. A grande explosão de surgimento dessas novas formas de vida evangélica no mundo e de modo especial no Brasil onde se concentra hoje, o maior número delas, em primeiro lugar é sinal dessa ação de Deus e, por um outro lado, eu compararia à parábola do trigo e do joio (Mt 13, 24-30) que no seu devido tempo, passada as provas que Deus permitir, aquilo que é joio disfarçado de comunidade irá ceder lugar para os verdadeiros Carismas. É necessário dizer isso, pois, há muita iniciativa humana em nosso meio e outras até malignas! Por este motivo não se pode julgar todas as comunidades a partir de experiências negativas de algumas aqui e acolá. Por isso é que está nas mãos de nossos bispos o múnus de discernir os verdadeiros carismas na Igreja. É a eles que humildemente nos submetemos.

A beleza desta nova primavera na Igreja suscitada pelo Espírito através dos Movimentos e Novas Comunidades também é testemunhada e se torna profecia na dimensão formativa e missionária em que vivem. É verdadeiramente um novo ardor missionário incrustado no tecido eclesial. D. Stanislaw Rilko - Presidente do Conselho Pontifício para os Leigos - disse em uma entrevista a Radio Vaticano por ocasião do Primeiro Encontro de Novas Comunidades Eclesiais da América Latina, acontecido em Bogotá em março de 2006 que "Hoje há muitos falsos mestres que enganam com promessas baratas de felicidade. Os movimentos eclesiais e as novas comunidades são uma resposta do Espírito Santo para este grande desafio de nossos dias, pois são itinerários pedagógicos de formação dos cristãos adultos na fé, e itinerários de descoberta de Cristo como único Mestre e Senhor... Os movimentos e as novas comunidades, como nos ensinou João Paulo II, e como nos ensina hoje Bento XVI, trazem à Igreja um impulso missionário muito forte. Têm uma incrível valentia missionária".

Logicamente não poderíamos deixar de dar uma passada nas palavras de Bento XVI que corroborou tudo o que disse João Paulo II a respeito das Novas Comunidades enquanto seu fiel colaborador e posteriormente como seu sucessor. Vejamos uns trechos de sua homilia no II Encontro Mundial dos Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades com o Santo Padre acontecido a 03 de Junho de 2006 na Praça de S. Pedro no Vaticano:
"Volta com emoção à nossa memória o encontro análogo que teve lugar nesta mesma Praça, no dia 30 de Maio de 1998, com o amado Papa João Paulo II. Grande evangelizador da nossa época, ele acompanhou-vos e orientou-vos durante todo o seu Pontificado; várias vezes definiu "providenciais" as vossas Associações e Comunidades, sobretudo porque o Espírito santificador se serve delas para despertar a fé nos corações de numerosos cristãos e para fazer com que eles redescubram a vocação recebida mediante o Batismo, ajudando-os a serem testemunhas de esperança, repletas daquele fogo de amor que é precisamente o dom do Espírito Santo."
Significativo, também, foi o apelo feito pelo Santo Padre e sua bênção invocada ao final de sua homilia nesse mesmo encontro:
"Estimados amigos, peço-vos que sejais ainda mais, muito mais, colaboradores no ministério apostólico universal do Papa, abrindo as portas a Cristo."
"Portanto oremos ao Deus Pai, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, na graça do Espírito Santo, a fim de que a celebração da Solenidade do Pentecostes seja como um fogo ardente e um vento impetuoso para a vida cristã e para a missão de toda a Igreja. Deposito as intenções dos vossos Movimentos e das vossas Comunidades no Coração da Santíssima Virgem Maria, presente no Cenáculo juntamente com os Apóstolos; que Ela suplique a realização concreta das mesmas. Sobre todos vós, invoco a efusão dos dons do Espírito, a fim de que nesta nossa época consiga realizar-se a experiência de um renovado Pentecostes. Amém!"

Eis aí nossa grande responsabilidade: sermos colaboradores no ministério apostólico do Santo Padre e instrumentos de um renovado Pentecostes em nosso tempo!

E para finalizar essa pequena reflexão sobre as Novas Comunidades se faz necessário uma atenção especial ao que diz sobre o assunto o documento de Aparecida, 311-313:
"Os novos movimentos e comunidades são um dom do Espírito Santo para a Igreja. Neles, os fiéis encontram a possibilidade de se formar cristãmente, crescer e comprometer-se apostolicamente até ser verdadeiros discípulos missionários. Assim exercitam o direito natural e batismal de livre associação, como indicou o Concílio Vaticano II."

"Os movimentos e novas comunidades constituem valiosa contribuição na realização da Igreja Particular. Por sua própria natureza, expressam a dimensão carismática da Igreja: 'Na Igreja não há contraste ou contraposição entre a dimensão institucional e a dimensão carismática, da qual os movimentos são expressão significativa, porque ambos são igualmente essenciais para a constituição divina do Povo de Deus' (Bento XVI, Discurso, 24 de março de 2007)... Neles 'podemos ver a multiforme presença e ação santificadora do Espírito'."
"É verdade que os movimentos devem manter sua especificidade, mas dentro de uma profunda unidade com a Igreja particular, não só de fé mas de ação."
Que Maria mãe da Igreja e Rainha dos Apóstolos nos conduza com sua intercessão ao pleno cumprimento da vontade de Deus na plena comunhão com a Igreja de seu Filho Jesus Cristo.

Italo J. Passanezi Fasanella
Fundador e Moderador Geral Comunidade Católica Sagrada Família - SP

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