quinta-feira, 27 de março de 2008

Dor No Juízo


Tem gente que tem dor de cabeça.


Enxaqueca. Palavra engraçada: en-xa-que-ca. “Encher a Queca”.


Dizem que essa dor é pra gente chique e mandona... será? Sei não...

Sempre que alguma coisa não acontece do jeito esperado, do jeito planejado, do jeito encomendado, de repente, não mais que de repente, a cabeça da madame (o que vale para todos as madames e cavalheiros...) começa a dizer aqueles palavrões horrorosos mas que de jeito nenhum tem coragem de sair da cabeça pra fora, então não tem outro jeito, fica da cabeça pra dentro... Dependendo do grau do palavrão é o grau da dor de cabeça. Uuuuuuuuuui!!! Aí o charme toma conta, afinal a dor de cabeça precisa de classe pra convencer...

Eu já tive tantas...


Nem te conto onde vai parar a cabeça cheia de caraminholas e temperada com raiva contida...


Tem gente que tem dor de barriga.


Imagine o dia em que um sonho maravilhoso está chegando como aquele da donzela que espera trinta anos pra se casar (ou quarenta, ou cinqüenta, ou sessenta... dependo da capacidade de administrar o desespero... ) o bendito dia chega. Todo mundo na igreja esperando a pobrezinha... e ela em casa, sem saber no que mais gastava sua preocupação: se no altar, com o Zé Maria, que finalmente à pediu em casamento depois de anos de enrolação e de todas as outras que ele jura não ter tido, ou nas contas matemáticas casamentícias de quantos anos de espera ela teve de agüentar pra se casar, que com certeza todos da igreja iriam estar fazendo, principalmente quando ela aparecesse na porta da igreja, toda temerosa com seu vestido branco-bege de renda, brega de doer... A pobre não agüenta e a barriga grita mais o medo do que a coragem de ser feliz e ela fica mesmo é no banheiro da sacristia... Santa solteirice!!

O casamento é transferido.


Motivo: dor de barriga.


Tem gente que tem dor no juízo...


Ah dorzinha miserável! Que não sabe de onde vem nem pra onde vai, mas está longe de desistir da missão de importunar uma pecadora acostumada e bem treinada como eu...

É aquela dozinha intrometida, que chega bem na hora que a gente quer se ver livre da culpa, mas não sabe fazer a coisa certa sem precisar se desculpar, não sabe ser livre, não sabe onde mora a verdade dentro de si mesmo... Que “antice”!!

É aquela dorzinha que lhe diz a coisa certa no momento certo com a pessoa certa, mas você tenta convencê-la de que ela é que está errada...

É aquele som interior, terrível e maravilhoso que entorta todas as possibilidades de infidelidade da alma, mas se a gente se mexe demais por não ouvi-la, acaba por conseguindo e aí... a vaca vai é gostar do brejo.

De todas as dores da humanidade essa é a melhor dor que a gente pode ter!


Dor no juízo! Que dor maravilhosa!


Nossa Senhora da Dor de Todos os Juízos do Mundo, desata os nós dos nossos barulhos interiores e manda “é mais” dor pra nós...

Ziza Fernandes

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