quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Oração e Revolta...


“A oração é a única forma de revolta que permanece de pé.” Reflexões de um espectador culpado, de Thomas Merton

E
sta frase de Merton nos leva a um caminho seguro: Revoltas, sem oração, sem o filtro da espiritualidade cheia de sinceridade, não levam a lugar algum. São vazias. Só fazem barulho. Choramingar, brigar, gritar... é o que fazem os que não têm Deus. Nós brigamos, choramingamos, gritamos, mas nos calamos...se preciso for. Saber o tempo de cada coisa... é a diferença que pode parecer sutil, mas é essencial. Outro texto de Merton, comentando Bernanos:

“ ‘Os santos’ — disse Bernanos [o conhecido autor do Diário de um pároco de aldeia] , ‘não são pessoas resignadas, pelo menos no sentido em que o mundo o acredita. Se sofrem em silêncio as injustiças que perturbam os medíocres, é de maneira a voltar contra a injustiça, contra sua face dura, toda a força de suas grandes almas. As cóleras, filhas do desespero, se insinuam e se debatem como vermes. A oração, afinal de contas, é a única forma de revolta que permanece de pé.’
Há nisso uma grande verdade sob todos os pontos de vista. Uma espiritualidade que prega a resignação em face de brutalidades ‘oficiais’, a anuência servil com frustração e esterilidade, a submissão total à injustiça organizada é uma espiritualidade que não mais se interessa pela santidade, mas se preocupa apenas com a noção espúria da ‘ordem’. Por outro lado, é tão fácil desperdiçar energia nos inúteis esforços daquela ‘cólera filha do desespero’, na recriminação vã que sente uma perversa alegria em culpar todos os demais quando fracassamos. Podemos certamente fracassar na realização daquilo que pensávamos ser a vontade de Deus para nós e para a Igreja. Mas simplesmente nos vingarmos com ressentimento contra os que nos atrapalharam não é voltar a força de nossa alma (se a temos) contra a ‘face dura da injustiça’. É outro modo de ceder a ela.

Pode haver um toque de estoicismo na linguagem de Bernanos aqui, porém não importa. Um pouco mais de força estóica não nos faria mal e não seria forçosamente um obstáculo à graça!”

Conjectures of a Guilty Bystander, de Thomas Merton
(Doubleday, New York), 1966. p. 165

Nenhum comentário: